LUANDA, UMA PARA MIM OUTRA PARA TI

A recente proposta do MPLA de dividir Luanda em duas províncias, cada uma com seu próprio governador – um do MPLA e outro da UNITA – tem gerado muita discussão. Por trás dessa iniciativa convencional muitos desconfiam de ser uma estratégia política bem calculada.

Por Malundo Kudiqueba

Um dos argumentos de defesa que o MPLA apresenta para justificar o seu projecto são os 12 milhões de habitantes residentes em Luanda. O comentador residente da TV ZIMBO, Bali Chionga tem sido um dos grandes defensores deste projecto. A forma simplista e periférica como Bali Chionga aborda essa questão leva-nos a tirar a seguinte conclusão: Ele acredita que cortando uma pizza em mais fatias conseguimos alimentar mais pessoas. Bali Chionga precisa entender que o problema não está na quantidade de pessoas, mas na qualidade da gestão.

Luanda é uma megacidade com um poder económico, financeiro e político. Antes de qualquer análise é importante contextualizar o que está em jogo. O MPLA não quer perder o controlo de Luanda para UNITA em 2027. Perder Luanda é como se tivessem perdido o controlo de todo país.

Bali Chionga deve compreender que Luanda não é a única cidade do mundo com 12 milhões de habitantes. A cidade de São Paulo por exemplo no Brasil tem mais de 12 milhões de habitantes. Não é uma cidade perfeita mas é funcional e a divisão da cidade não está na agenda política. Pelos meus minúsculos conhecimentos não importa se a cidade é grande ou pequena; o que importa é a capacidade de governar com competência e transparência.

Uma gestão urbana eficiente, planeamento estratégico, infra-estruturas adequadas e serviços públicos bem administrados são o que realmente fazem uma cidade/país funcionar. Sejamos realistas com o povo, Bali Chionga: Se o governo já tem dificuldade em organizar uma só cidade, dividir a confusão em duas não vai de forma mágica resolver os problemas. Como é que Bali Chionga justifica termos províncias com apenas 5 milhões de habitantes não estarem organizadas? O problema não está na quantidade de habitantes mas sim na qualidade organizativa.

Um conselho amigável para os camaradas: da próxima vez, antes de tomarem uma decisão que muda a vida de milhões de pessoas, que tal perguntarem o que elas acham? Além de ser um gesto de respeito, pode revelar soluções que vocês nunca imaginaram. É que vocês não podem tomar decisões sem antes consultarem aqueles que serão potencialmente prejudicados ou beneficiados. Não podemos dizer que estamos a governar para o povo, pelo povo e com o povo sem consultar as pessoas.

Cidade Alta sob a jurisdição da UNITA: pensando bem, talvez a ideia de dividir o poder possa ensinar algo sobre cooperação. Imaginemos os dois partidos a trabalhar juntos para melhorar a vida dos cidadãos, tendo a Cidade Alta como exemplo de união e não de divisão.

As equipas de futebol: O 1º de Agosto, com sua histórica rivalidade com o Petro de Luanda, e o Kabuscorp, todos sob a administração do MPLA. Para os fãs, isso pode ser visto como um reforço da hegemonia desportiva do partido no poder. Afinal, o futebol é uma extensão da política, e ter os principais clubes na sua zona de influência não é pouca coisa. A estratégia é ganhar os adeptos de futebol. Cada adepto de futebol é um putativo eleitor para a equipa dos camaradas. A UNITA, por outro lado, enfrenta um desafio. Sem equipas de futebol estabelecidas na sua província, eles precisarão de fazer investimentos para criar ou atrair clubes que possam rivalizar com as equipas da província ao lado.

Luanda precisa de uma dieta financeira: Luanda gasta e recebe mais dinheiro do que todas as outras províncias juntas. As outras províncias, que sustentam a capital com os seus recursos naturais e produtos agrícolas, olham para essa situação e perguntam: “Onde está nosso pedaço do bolo?”

É verdade que Luanda tem as suas razões para gastar mais. Afinal, é a capital política e económica do país, o epicentro onde se concentram as maiores empresas, embaixadas e centros de decisão. Mas uma dieta financeira não é só sobre cortar gastos. Luanda também precisa de aprender a investir melhor. Todos sabemos que dietas não são fáceis. Haverá resistência, com pessoas a reclamar, outras tentando justificar cada gasto como se fosse essencial. Mas, no final de contas, uma dieta financeira é o que vai garantir a saúde financeira a longo prazo da nossa capital.

Política é competição: A competição entre os dois governadores vai ser mais emocionante do que um derby de futebol. Vamos ter a versão política de um campeonato: Luanda Leste contra Luanda Oeste. Quem vai ter os hospitais mais eficientes? As escolas mais bem equipadas? A pergunta que não quer calar: como será feita essa divisão? O mais divertido é imaginar os habitantes tentando adaptar-se. O Sr. João, que vive no bairro do Rangel, acorda um dia e descobre que agora mora na Luanda Leste, enquanto seu local de trabalho, na Mutamba, fica na Luanda Oeste.

Essa iniciativa pode ter um aspecto positivo. O povo poderá tirar as suas conclusões sobre estilos de gestão até porque essa situação poderá transformar a cidade num grande palco de competição política e administrativa. Luanda é uma cidade onde os sonhos se encontram com os pesadelos da gestão pública. Em Luanda, cada rua parece ter um dono, e cada quarteirão, um padrinho. A gestão pública enfrenta um verdadeiro campo minado de interesses comerciais. Imaginem tentar organizar o trânsito quando cada esquina é disputada por vendedores ambulantes, taxistas, empresários chineses e/ou libaneses querendo instalar o seu próprio negócio o resultado nunca será satisfatório. Termino para dizer o seguinte: Dividir a cidade de Luanda, ou não, haverá sempre aquelas pessoas que nunca estão contentes. O importante é escutar e respeitar a voz da maioria.

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